Dizem que das pessoas que passam em nossas vidas, 50% conhecemos até os 23 anos. Entre elas estão familiares, parentes, amigos, colegas, inconvenientes e namoradas. Destes apenas 25% serão lembrados na posteridade, os que viram alicerces de nossos corpos e mentes. Para os analistas esse grupo se restringe às pessoas mais próximas. Como nem todo crítico é lúcido, as pesquisas também se embriagam. Não podem esquecer dos descartáveis, são as melhores pessoas que conhecemos, mesmo porque não as conhecemos muito bem. Exemplo? Ônibus. É a maior convenção de descartáveis contemporâneos. Uma prateleira farta e diversificada. É só escolher com quem conversar e falar a primeira palavra. Pronto! está iniciada a filosofia do dia. Imagine Platão, Aristóteles, Xenófanes ou então Descartes, Rousseau dentro dos ônibus. Adoráveis! Iriam prosear sobre o eu, sobre o efêmero papo interpenetrado nele mesmo.
A labuta diária é pesada e não há tempo para bater uma resenha. A verdade é que os descartáveis são realmente estranhos, falam o que queremos e se rolar um clima até cedem o ombro para cochilarmos. Quem nunca encontrou no ônibus apenas um lugar, este ao lado da senhora de cento e cinqüenta quilos. Aquela que nem sabemos se usa cinto ou a linha do equador e que ocupara o espaço dela e a metade do seu. É claro que não sentamos e sim nosso lado esquerdo senta a banda direita do corpo ou vice versa. Quem nunca puxou papo com um descartável tendo segundas intenções e percebe que este sofre de gerundismo terrível. Ao perguntar onde trabalha, ele responde no telemarketing da sua operadora telefônica. Controle-se, no final do ponto ele vai falar “O Sr. podia estar mudando de operadora, nosso serviço está sendo horrível” e fazer jus ao seu rótulo de descartável. Existem aqueles que sabem de tudo, conheceram presidentes, fumou maconha com Bob Marley e que carteira de motorista é um símbolo de masculinidade. Aquelas que lêem mãos e acabam descobrindo tudo de sua vida e ainda afirmam que possui um leve distúrbio mental tracejado em suas próprias digitais.
Descartáveis, não há como fugir. Um dia você vai encontrar. Tarados, ladros, antipáticos; peões, anões; loucos, tolos; lúcidos ou loucos demais, amantes, adoráveis e memoráveis.
Um comentário:
Parabéns meu irmão, a crônica ficou muito boa e o texto muito bem escrito. Eu tenho certeza que você vai longe !!! Compartilho com vc esta idéia de que não devemos "descartar" os descartáveis, mesmo que isto pareça um paradoxo. Abraços !!!
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