terça-feira, 3 de abril de 2007

Descartáveis, adoráveis e memoráveis!

Dizem que das pessoas que passam em nossas vidas, 50% conhecemos até os 23 anos. Entre elas estão familiares, parentes, amigos, colegas, inconvenientes e namoradas. Destes apenas 25% serão lembrados na posteridade, os que viram alicerces de nossos corpos e mentes. Para os analistas esse grupo se restringe às pessoas mais próximas. Como nem todo crítico é lúcido, as pesquisas também se embriagam. Não podem esquecer dos descartáveis, são as melhores pessoas que conhecemos, mesmo porque não as conhecemos muito bem. Exemplo? Ônibus. É a maior convenção de descartáveis contemporâneos. Uma prateleira farta e diversificada. É só escolher com quem conversar e falar a primeira palavra. Pronto! está iniciada a filosofia do dia. Imagine Platão, Aristóteles, Xenófanes ou então Descartes, Rousseau dentro dos ônibus. Adoráveis! Iriam prosear sobre o eu, sobre o efêmero papo interpenetrado nele mesmo.
A labuta diária é pesada e não há tempo para bater uma resenha. A verdade é que os descartáveis são realmente estranhos, falam o que queremos e se rolar um clima até cedem o ombro para cochilarmos. Quem nunca encontrou no ônibus apenas um lugar, este ao lado da senhora de cento e cinqüenta quilos. Aquela que nem sabemos se usa cinto ou a linha do equador e que ocupara o espaço dela e a metade do seu. É claro que não sentamos e sim nosso lado esquerdo senta a banda direita do corpo ou vice versa. Quem nunca puxou papo com um descartável tendo segundas intenções e percebe que este sofre de gerundismo terrível. Ao perguntar onde trabalha, ele responde no telemarketing da sua operadora telefônica. Controle-se, no final do ponto ele vai falar “O Sr. podia estar mudando de operadora, nosso serviço está sendo horrível” e fazer jus ao seu rótulo de descartável. Existem aqueles que sabem de tudo, conheceram presidentes, fumou maconha com Bob Marley e que carteira de motorista é um símbolo de masculinidade. Aquelas que lêem mãos e acabam descobrindo tudo de sua vida e ainda afirmam que possui um leve distúrbio mental tracejado em suas próprias digitais.
Descartáveis, não há como fugir. Um dia você vai encontrar. Tarados, ladros, antipáticos; peões, anões; loucos, tolos; lúcidos ou loucos demais, amantes, adoráveis e memoráveis.